Odontopediatria: a prevenção começa na infância

A Odontopediatria é a especialidade que tem como objetivo o diagnóstico, a prevenção, o tratamento e o controle dos problemas de saúde bucal do bebê, da criança e do adolescente. A definição da especialidade é avigorada pela Consolidação das Normas para Procedimentos nos Conselhos de Odontologia, aprovada pela Resolução do Conselho Federal de Odontologia (CFO) – 63/2005.

Presentes no artigo 72, as normas esclarecem também que as áreas de competência para atuação do especialista em Odontopediatria incluem: a) promoção de saúde, devendo o especialista educar bebês, crianças, adolescentes, seus respectivos responsáveis e a comunidade para adquirirem comportamentos indispensáveis à manutenção do estado de saúde das estruturas bucais; b) prevenção em todos os níveis de atenção, devendo o especialista atuar sobre os problemas relativos à cárie dentária, ao traumatismo, à erosão, à doença periodontal, às mal-oclusões, às malformações congênitas e às outras doenças de tecidos moles e duros; c) diagnosticar as alterações que afetam o sistema estomatognático e identificar fatores de risco em nível individual para os principais problemas da cavidade bucal; d) tratamento das lesões dos tecidos moles, dos dentes, dos arcos dentários e das estruturas ósseas adjacentes, decorrentes de cárie, traumatismos, erosão, doença periodontal, alterações na odontogênese, mal-oclusões e malformações congênitas utilizando preferencialmente técnicas de mínima intervenção baseadas em evidência; e) e a condução psicológica dos bebês, crianças, adolescentes e seus respectivos responsáveis para atenção odontológica.

Segundo o mestre e doutor em Odontopediatria (Fousp) e editor científico da Revista da APCD, Danilo Antônio Duarte, a Odontopediatria exerce papel fundamental na prevenção odontológica nos bebês e nas crianças, como fator educador para a saúde bucal e também sistêmica. “Antes mesmo da prevenção em si, é extremamente importante educar o núcleo familiar, transformando e modificando comportamentos. E tal fato é, atualmente, muito presente na Odontologia voltada para bebês e crianças. A Odontopediatria pesquisa muito sobre comportamentos e hábitos  que impactam a saúde que quando bem ajustados no período de infância e adolescência, irão determinar a saúde desde o recém-nascido até sua fase adulta. Dessa forma, as atitudes educativas e preventivas instituídas em bebês e crianças são essenciais para a condução da saúde geral e particularmente a bucal, durante todo o período de vida do indivíduo”, completa.

A odontopediatra, Sandra Kalil Bussadori, afirma que nos últimos anos o atendimento de bebês, de crianças e de jovens por um especialista na área tem crescido. “Vejo que cada vez mais nos consultórios, nas clínicas, nas universidades e nos serviços públicos que a presença de um odontopediatra é fundamental”.

A diretora do Departamento de Prevenção e Promoção da Saúde da APCD, Helenice Biancalana, acrescenta que a valorização da Odontopediatria tem se destacado nos últimos anos pela mudança de postura do especialista na área. Houve um tempo em que muitos Cirurgiões-Dentistas atendiam às crianças sem conhecimento técnico-científico, pouca habilidade e psicologia, mas, atualmente as indicações profissionais realizadas pelos colegas da profissão, pediatras, fonoaudiólogos, nutricionistas, psicólogos etc., têm sido frequentes na rotina dos serviços e dos consultórios de Odontopediatria. “O Cirurgião-Dentista entende que fazer Odontopediatria é muito mais do que atender criança e exige atualizações científicas e clínicas continuadamente, investimentos em materiais e equipamentos, diante da exigência do público infantil. O profissional que se dedica a cuidar e tratar de crianças deve possuir, além dos conhecimentos da psicologia, algumas qualidades especiais: ter sensibilidade e bom senso, conhecer o mundo lúdico infantil, saber lidar com os anseios e necessidades da família, ser paciente e educador”.

Danilo Duarte ressalta que a Odontopediatria sempre contribuiu significativamente com avanços científicos nas áreas de diagnósticos e estratégias de tratamento de lesões de cárie, doenças gengivais, lesões traumáticas dentárias, anormalidades de oclusão e materiais dentários vislumbrando prevenção. “Nesses casos, é notável o declínio, ainda que não totalmente satisfatório, das patologias bucais. Alinhados aos conceitos de educação para a saúde, recentemente inúmeras pesquisas têm discorrido sobre aspectos psicossociais, e isso nos causa bastante entusiasmo. Assim, pesquisas sobre desenvolvimento de comportamentos e hábitos, qualidade de vida de crianças e núcleo familiar relacionada com a saúde bucal, alimentação saudável, tem modificado significantemente o conceito da Odontopediatria”.

A saúde da criança e do adolescente é abrangente. De acordo com a proposta e experiência de cada profissional é que se limita à atividade. “A Odontopediatria é ampla, o especialista trata de crianças em suas faixas etárias realizando todos os procedimentos como por exemplo, Endodontia, Cirurgia, Dentística, Periodontia, além de prevenir, diagnosticar e frequentemente tratar na Ortopedia Funcional dos Maxilares e na Ortodontia. A promoção da saúde é um objetivo da nossa especialidade e promover saúde exige do profissional conhecimento, responsabilidade do cuidado, controle e acompanhamento. A saúde bucal deve ser entendida como um resultado de ações que compreendem a saúde como um recurso para a vida com qualidade, determinada pelas condições sociais e ambientais de vida na comunidade”, ressalta Helenice.

Ainda, de acordo com Helenice Biancalanda, “os avanços científicos e as necessidades clínicas exigem do Cirurgião-Dentista um desempenho mais privativo em determinadas áreas da saúde da criança e do adolescente, sobretudo, vale ressaltar ainda que a Odontopediatria Hospitalar é uma competência expoente e urgente, com seus especialistas integrados e inteirados à equipe multiprofissional nos diagnósticos precoces e tratamentos que dependem das intervenções preventivas e curativas do odontopediatra, como na Oncologia e na Hematologia Infantil etc.”.

Vínculo profissional-paciente

Embora, a maioria das crianças resiste a tratamentos odontológicos, o vínculo na relação profissional-paciente é imprescindível, em razão da criança se sentir assegurada e tranquila na hora de seu atendimento. “No entanto, uma pequena parte das crianças pode resistir sim ao atendimento odontológico e não atender satisfatoriamente aos comandos do Cirurgião-Dentista, ainda que este demonstre empatia, liderança e habilidade de ouvir. Essa resistência deve-se à ansiedade, imaturidade, dor ou ao simples desejo de não colaborar. Para ambos os grupos de crianças, o profissional deve apoiar a criança e sua família para o enfrentamento da situação. As técnicas de adaptação comportamental são as ferramentas para isso, desde que baseadas em evidências científicas, na arte do profissional em conduzir o atendimento e no respeito aos princípios de autonomia”, esclarece Helenice.

Otimista em relação às perspectivas odontopediátricas Sandra Kalil assegura que “a maior dificuldade é conscientizar os pacientes e responsáveis que o segredo do sucesso depende muito da colaboração deles em conjunto conosco. Mudar atitudes comportamentais faz com que tenhamos gerações mais saudáveis com medidas relativamente simples que garantirão uma geração saudável e com um belo sorriso”, finaliza.

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