Infecção é comum em bebês e crianças e pode ser transmitida através do beijo
A discussão é antiga: beijar bebezinhos, principalmente os menores de três meses, é prejudicial à saúde? Uma notícia preocupou muitas mamães quando uma inglesa divulgou fotos de sua filha após contrair o vírus do herpes, depois de ser beijada por uma pessoa que estava infectada, e teve lesões espalhadas pelo rosto.
“O herpes simples é uma infecção viral muito comum que pode se apresentar em duas formas: infecções por Herpes Vírus Simples 1 ou 2 (HSV-1 e HSV-2), sendo que o 1 é mais comum em crianças, e está associado à herpes labial, e o 2 está mais ligado ao herpes genital”, explica João Maurício Peres Mainenti, pediatra e gerente médico da Microrregião V. Maria/ V. Guilherme, unidade do município de São Paulo, gerenciada pela Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM).
O especialista esclarece que o vírus está disseminado em grande parte da população e, por isso, muitas pessoas exibem manifestações dessa doença ao longo de toda a vida. “O HSV tem a capacidade de infectar a pessoa e, logo em seguida, ficar alojado em um nervo, quietinho, esperando a oportunidade de ser reativado e, assim, gerar novas lesões”, explica.
O vírus é transmitido através da saliva contaminada ou por contato direto com as lesões ativas. A saliva contaminada não existe a todo o momento, mas pode existir mesmo sem a presença de lesões evidentes, por isso às vezes pode ser difícil explicar em que momento ocorreu a contaminação.
O pediatra explica que cerca de 85% dos casos de contágio em bebês acontecem no momento do parto, em geral por HSV-2, quando a criança entra em contato com a lesão contaminada da mãe na região genital. “Nestes casos, é preciso avaliar o canal de parto, no momento em que a mulher for dar à luz, e se houver lesão ativa será necessário recorrer à cesárea”, afirma Mainenti. Em cerca de 5% dos casos, os bebês contraem o vírus ainda no útero e nos 10% restantes, o contágio se dá principalmente através do contato com lesões labiais dos adultos ou com a mama materna, durante a amamentação. “Mas, atenção: mesmo que seja identificada uma lesão no seio, o aleitamento não está proibido. Basta isolar a mama doente, caprichar na higiene das mãos e oferecer a outra mama, saudável”, destaca o médico.
O beijo é uma forma comum de contágio, isso porque a pessoa pode ser portadora do vírus mesmo sem ter alguma ferida aparente. Compartilhar copos e talheres com uma pessoa portadora do HSV também facilita o contágio. “No caso de feridas nos lábios, os adultos devem usar máscara. Se não for possível, é preciso evitar o contato com a criança”, lembra João Maurício.
Em geral, para aquelas pessoas que são portadoras do vírus, mas ainda não desenvolveram lesões, o HSV se manifesta quando a resistência imunológica está baixa. O sol é um dos fatores que pode contribuir para isso, porque a radiação dos raios ultravioleta age bloqueando a ação das células de defesa do organismo e reduzindo a proteção imunológica. “Estresse, fadiga, cigarro, bebida alcoólica em excesso e menstruação também baixam a resistência imunológica”, destaca o especialista.
A infecção
A infecção pelo Herpes pode ser primária ou secundária, de acordo com o pediatra João Mainenti.
– Na infecção primária, a pessoa entra em contato com o vírus pela primeira vez. É a forma mais importante na infância, já que a maioria das infecções primárias acontece nesta fase da vida. Frequentemente, a infecção primária acomete crianças de seis meses a cinco anos de idade, com pico de prevalência entre dois e três anos. Pode variar de assintomática até uma manifestação dolorida e preocupante. O quadro clínico mais preocupante é a gengivoestomatite herpética primária aguda, caracterizada por febre, irritabilidade, falta de apetite, náuseas, aumento de linfonodos no pescoço e lesões orais doloridas, como pequenas bolhas que se rompem e formam múltiplas úlceras rasas, parecidas com aftas, que aparecem na língua, na gengiva, nos lábios e na garganta. A infecção primária acontece apenas uma vez na vida, no primeiro contato com o vírus, e as infecções posteriores de herpes labial costumam ser mais brandas.
– A infecção secundária é aquela que aparece diversas vezes ao longo da vida, em geral como pequenas bolhas no lábio que se rompem e formam crostas características do vírus do herpes.
Geralmente, a infecção se resolve dentro de cinco a sete dias, em casos mais brandos, ou até em duas semanas, nos casos mais graves. Não existe cura e, uma vez infectada, a pessoa levará o vírus para sempre, mas nem todos vão manifestar a doença.
Os principais sintomas da infecção primária em crianças são:
– Lesões na língua, bochechas, palato, gengiva e lábios.
– Gengivas inflamadas.
– Dificuldade de engolir, com diminuição da ingestão de alimentos, pois os sintomas são tão desconfortáveis que a criança se nega a comer ou beber, mesmo estando com fome.
– Babar.
– Febre de até 40ºC, que pode ocorrer até cinco dias antes do aparecimento das lesões.
– Irritabilidade.
As manifestações clínicas vão depender muito da idade e do sistema imune do paciente, podendo variar de uma simples estomatite à uma encefalite e herpes neonatal, sendo estes dois últimos fatais em 70% dos casos.
Tratamento do herpes em crianças e bebês
O pediatra explica que o tratamento da infecção geralmente é baseado apenas na tentativa de reduzir os sintomas de febre e dor com o uso de analgésicos, antitérmicos e antiinflamatórios. “O que é altamente recomendado nessa fase de lesões agudas é a alteração da alimentação da criança. É importante inserir uma dieta mais líquida e pastosa, com pouco sal ou temperos fortes, para que seja menos dolorida a sua ingestão, assim como evitar o consumo de refrigerantes e comidas ácidas”, destaca ele.
A higiene oral também não pode ser esquecida, já que o acúmulo de bactérias pode aumentar a inflamação e a dor. “A escovação deve ser feita com uma escova de dentes infantil macia e o uso da pasta de dente pode ser mantido, em pequena quantidade. O importante é o movimento delicado e preciso para remover os resíduos da superfície do dente sem machucar a gengiva da criança”, explica Mainenti.
Prevenção
Cerca de 90% da população é portadora do vírus herpes simples, por isso é difícil impedir que a criança adquira a infecção em algum momento da infância. Além de evitar o contato próximo com pessoas que tenham lesões ativas ou aftas e com outras crianças com estomatite, o especialista também recomenda não ficar beijando crianças muito pequenas e investigar qualquer febre não esclarecida.
Durante a manifestação do herpes, é importante ter alguns cuidados para que uma criança não infecte outras. Caso um filho esteja com estomatite herpética, os pais devem ficar atentos às dicas do médico:
– Lave as mãos frequentemente.
– Mantenha os brinquedos limpos e não compartilhe com outras crianças.
– Não deixe que compartilhem pratos, copos e talheres.
– Não deixe a criança colocar a mão na boca, pois assim o vírus pode ser levado para outras partes do corpo, como nariz, olhos e genitália.
– Não deixe seu filho beijar outras crianças.