A boca assume várias funções no homem, sendo que as mais importantes são as vitais, de respiração e alimentação. Além dessas, existe uma relação com o mundo externo através da expressão facial e da fala. É notável a total correlação entre vários profissionais que atuam exatamente na boca e componentes extrabucais, tais como otorrinolaringologista, cirurgião-dentista e fonoaudiólogo.
O objetivo desses profissionais é a total harmonia de todas as estruturas e da normalidade de todas suas funções, e qualquer alteração poderá produzir problemas em diversos aspectos.
As funções de mastigação, sucção, deglutição e respiração e alterações nestes podem desencadear distúrbios na fala, na musculatura e oclusão dentária.
A forma do arco dentário depende de um equilíbrio harmonioso entre todos os tecidos moles que o circundam. Qualquer alteração neste equilíbrio muscular pode ocasionar, junto com as demais causas, uma maloclusão, principalmente quando este equilíbrio se estabelece através de mau hábito bucal.
É interessante notar que, quando uma dessa funções está alterada, todas as demais sofrem desvios, sendo quase impossível o paciente ser portador de um único mau hábito. Por exemplo, a criança que chupa chupeta apresenta, além de maloclusão, toda uma hipotensão (flacidez) muscular que ocasiona mastigação deficiente, a deglutição (ato de engolir) é totalmente atípica, a respiração dificilmente será nasal e a fala se alteraria pela posição dos dentes, língua e musculatura deficiente.
Na respiração bucal, encontramos uma postura de língua inadequada na posição de repouso, na deglutição e na fala existe situação totalmente ineficiente e mastigação inadequada.
Quando o odontopediatra se depara com este quadro clínico, é importante o conhecimento do problema que envolve este paciente, avaliando todas as funções e suas possíveis consequências durante o crescimento e a troca dos dentes.
Caraterísticas dos maus hábitos bucais
- Respiração bucal
Quando o indivíduo é portador de respiração bucal, o processo encontra-se alterado apresentando constante obstrução das narinas, lábios entreabertos, possibilitando a passagem do ar sem filtragem ou aquecimento necessário. Normalmente, esses pacientes apresentam deficiência na capacidade pulmonar, se cansando facilmente, tem má oxigenação cerebral, que os leva a um estado de semiletargia impossibilitando a atenção adequada em certas atividades, tais como ler, assistir aulas, televisão ou reuniões. São indivíduos rotulados de preguiçosos ou distraídos. As suas características somam-se as posturais, em geral são pessoas ligeiramente arcadas para a frente a com fisionomia tristonha, com olheiras, a musculatura facial é totalmente hipotônica, o palato ogival e, muitas vezes, atresia das fossas nasais.
- Sucção de dedo, chupeta ou lábio.
Além de má-oclusão, que em geral acompanha este mau hábito, normalmente há presença da deglutição atípica e a posição incorreta da língua, na fala.
A mordida aberta é a maloclusão mais frequente, os lábios encontram-se hipotônicos pela postura adquirida durante a sucção inadequada.
Devemos salientar que, a necessidade de avalição correta de mau hábito, sendo algumas vezes imprescindível a atuação de um psicólogo para conclusão correta e futuramente uma decisão acertada quanto à terapêutica indicada.
- Deglutição atípica
Para se entender este mau hábito, se faz necessário o conhecimento do que venha ser deglutição normal.
A deglutição é um ato contínuo, comandado neurologicamente por ações musculares coordenadas.
Didaticamente, esta função vem sendo dividida em três fases:
- Fase bucal;
- Fase faríngea;
- Fase esofágica.
Destas três fases, interessam aqui a fase bucal, que é totalmente consciente e voluntária, em que encontramos a disfunção na qual poderemos atuar.
Neste ponto, podemos caracterizar a existência da deglutição normal quanto há preenchimento de certos padrões principais.
- A língua toca a papila;
- Dentes ocluídos;
- Sucção da língua contra o palato;
- Vedamento suave de lábios sem mímica perioral exagerada.
Na deglutição atípica, estes aspectos encontram-se alterados, além dos movimentos da cabeça ao engolir, pressão dos lábios, acúmulo de saliva e fala alterada.
– Avaliação dos maus hábitos
Quando o odontopediatra se depara com qualquer tipo de mau hábito, deve avaliar, levando em consideração a idade da criança, o estágio que se encontra a troca dos dentes e a oclusão. Todas as funções devem ser examinadas, observando-se a deglutição, respiração, sucção, mastigação e fala.
Em função de este assunto sofrer a interferência de várias áreas da saúde, existe a influência de numerosos métodos terapêuticos, como o utilizado por ortodontistas, através de aparelho fixos ou removíveis, otorrinolaringologistas, psicólogos e fonoaudiólogos.
O fonoaudiólogo deve ser consciente da necessidade da interação de um método mecânico que o ajude como, por exemplo, aparelho impedidor de língua, muitas vezes, é de grande valia. Além do odontopediatra ou ortodontista, muitas vezes necessitamos de ajuda de um otorrinolaringologista e um psicólogo.
A coordenação total entre esses vários profissionais é imprescindível para recuperação satisfatória do mau hábito bucal.
– Avaliação fonoaudiológica
Esta avaliação constará de uma entrevista inicial com os pais, na qual serão levantados dados sobre a criança, em relação ao desenvolvimento emocional, dados sobre o desenvolvimento da fala e finalmente dados sobre seu estado de saúde geral.
É importante aqui observar a atitude familiar perante o problema, suas ansiedades e perspectivas.
Uma outra etapa da avaliação é a observação da integração desta criança com seu meio, tanto familiar como escolar, e através daí obter informações sobre a sua fala e linguagem, que serão de grande valia para o sucesso ou não do tratamento.
Finalmente, uma avaliação direta do paciente na qual o fonoaudiólogo utilizará técnicas especificas para maior aquisição de dados relevantes.
Todo tratamento é dividido em etapas progressivas de dificuldade; inicialmente, são apresentados exercícios de maior facilidade na execução e gradativamente introduzem-se os demais.
O paciente e a família, devem ser conscientizados do problema e da importância da sua reeducação; da execução dos exercícios e, finalmente, a automatização do novo hábito apreendido.
Neste tratamento, é imprescindível a cooperação do paciente com realização de exercícios em casa. O novo hábito deve tonar-se parte integrante da sua vida e não só dentro da sala de terapia.
Fonte de pesquisa:
Livro: Odontopediatria /Antônio Carlos Guedes- Pinto.Capitulo: A Fonoaudiologia e suas relações com a odontopediatria. Edição: 7ª ; Editora: Santos